A inclusão de gestantes no grupo prioritário levantou questionamentos sobre possíveis riscos e provocou uma rápida disseminação de notícias falsas

 

Desde o início da pandemia de COVID-19, grandes preocupações e dúvidas têm surgido, visto que, a cada dia, a situação da doença toma novas direções. Agora chegamos a uma nova questão, na qual os fatos apontam que a variante P1 estaria afetando de forma mais significativa a saúde das gestantes.

De acordo com dados do Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19, o número de mortes de gestantes e de mães de recém-nascidos (puérperas) por COVID-19 teve um aumento superior a duas vezes no Brasil em 2021, quando comparado à média semanal de 2020. Esse cenário trouxe, além de grandes preocupações, também muitos questionamentos sobre a viabilidade de passar a incluir esse grupo de mulheres no plano nacional de vacinação contra a doença, como forma de protegê-las de complicações e de óbitos.

Após tantas dúvidas e em meio a tal situação de gravidade no Brasil, em 15 de março último o Ministério da Saúde incluiu as gestantes com comorbidades entre os grupos prioritários de vacinação contra COVID-19. Já no dia 26 deste mês, foi emitida uma nota técnica confirmando a orientação de que todas as grávidas e puérperas sejam colocadas no grupo prioritário para receberem a vacina contra a doença, sendo que, dentre elas, primeiramente deverão ser vacinadas aquelas com doenças pré-existentes. No entanto, após o comunicado, muitas pessoas levantaram questionamentos sobre possíveis riscos nessas situações e rapidamente notícias falsas sobre o tema começaram a se disseminar nas redes sociais.

Apesar de muitas informações recorrentes sobre vacinas, é natural que dúvidas tenham surgido sobre a sua segurança e eficácia em gestantes após a divulgação da nova inclusão. Como esse grupo não participou dos estudos iniciais, algumas indagações quanto ao melhor período gestacional para a sua aplicação, presença de efeitos colaterais sobre a mãe e possibilidade de risco de anomalias congênitas (no recém-nascido) também foram alvo de análises por parte dos profissionais de saúde e pesquisadores.

Em relação às questões de segurança e eficácia dos imunizantes, sabe-se que as grávidas já recebem imunizantes de vírus inativado no calendário de vacinação, semelhantes à metodologia empregada na vacina CoronaVac. Baseado também nesse alicerce, o Ministério da Saúde se apoiou para fazer a inclusão do grupo. Outro aspecto positivo e encorajador é que, apesar de as vacinas disponíveis ainda não terem sido testadas nesse grupo, os estudos em animais não mostraram que os imunizantes tenham efeito teratogênico, ou seja, não produziram dano ao embrião ou feto durante a gravidez.

O maior risco para as grávidas estaria na utilização de vacinas com vírus vivos atenuados, pois, nessa situação, mesmo enfraquecido, o vírus presente no imunizante poderia afetar o bebê, por estar em uma forma viável para replicação. No entanto, nenhuma das vacinas já aprovadas para utilização no Brasil se baseiam nesse princípio, o que pode trazer maior tranquilidade.

Para reiterar essas questões, podemos citar um estudo realizado no início de março último pelo American College of Obstetricians and Gynecologists, a partir do qual foi lançada uma nota de recomendação da vacinação para as gestantes. A recomendação se dá a partir dos dados obtidos, segundo os quais não foram apontadas, até aquele momento, evidências de riscos para mãe e bebê após a vacinação.

Outro estudo preliminar, realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e publicado no dia 21 deste mês na revista científica ‘The New England Journal of Medicine’, não encontrou evidências de que as vacinas fabricadas pela Pfizer e pela Moderna apresentam risco sério a mulheres grávidas. Nessa pesquisa, foram observados efeitos colaterais nas gestantes, como dor no local da injeção, fadiga, dores de cabeça, calafrios, febre e dores musculares, que também foram relatados em mulheres não grávidas.

O estudo ainda apontou que, além de a vacinação proteger as mulheres contra a doença e as suas complicações durante a gravidez, evidências mostraram a transferência de anticorpos via transplacentária contra o vírus SARS-CoV-2 após a vacinação materna durante o terceiro trimestre, sugerindo que a vacinação materna pode fornecer algum nível de proteção ao recém-nascido. No mesmo país, dados apontam que cerca de 20 mil grávidas profissionais da saúde foram vacinadas e não apresentaram complicações.

Além desses e outros estudos, a Organização Mundial da Saúde e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia também recomendam a vacinação desse grupo. Dessa forma, neste momento, é muito provável que o perfil de risco versus benefício na vacinação das gestantes seja favorável, ou seja, os benefícios da vacinação relativos à proteção contra a COVID-19 são superiores aos riscos que elas poderiam trazer.

Sendo assim, no Brasil, a recomendação é de que a vacinação possa ser realizada com qualquer vacina de plataforma de vírus inativado, como a CoronaVac; vetor viral, como as da AstraZeneca e Janssen; ou de RNA mensageiro, como as vacinas da Pfizer e Moderna. Seguindo a recomendação, é de suma importância que sejam respeitados os intervalos entre as doses preconizados pelos fabricantes.

Em resposta a outra indagação, a vacinação poderá ocorrer independente da idade gestacional, devendo ser respeitado o intervalo de, no mínimo, 14 dias entre a administração da vacina contra a Influenza (gripe) ou outra vacina do calendário de vacinação da gestante ou puérpera e a administração da vacina contra a COVID-19.

Diante de todas as recomendações, é fundamental que gestantes e puérperas sejam acompanhadas pelo seu obstetra no que diz respeito também às questões relativas à vacinação. Vale salientar ainda, que independente da vacinação, todos os grupos de pessoas, prioritários ou não, devem continuar os cuidados preventivos à doença, mantendo o distanciamento social, a higiene das mãos e o uso de máscaras.

ELISANGELA GUEIBER MONTES é doutora em Ciências Farmacêuticas, especialista em Microbiologia e Imunologia, e professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa

Por NCG.news / Foto:Divulgação