Assim como na dependência química, o vício em jogos limita a liberdade e as relações sociais, fazendo a pessoa preferir o vício à vida social, familiar e profissional

 

O hábito de jogar jogos eletrônicos pode parecer inofensivo, mas, em alguns casos, aquilo que é apenas um passatempo pode evoluir para um problema de compulsão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a classificar a prática excessiva de jogos eletrônicos como doença. O gaming disorder (“transtorno dos jogos eletrônicos”, em português) prejudica a capacidade de controlar e limitar a prática dessa atividade, priorizando os jogos em detrimento de outras atividades.

Os especialistas pretendem que o vício seja reconhecido como um distúrbio para incentivar medidas de prevenção e tratamento. “A classificação dá legitimidade ao problema, que deverá ter aquelas características determinadas para ser diagnosticado como transtorno dos jogos eletrônicos”, explica Aderbal Vieira Junior, médico psiquiatra e coordenador do Ambulatório de Dependências do Comportamento, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Assim como em casos de dependência química, o vício em jogos eletrônicos limita a liberdade e as relações sociais, fazendo com que a pessoa prefira o ambiente do vício à vida social, familiar e profissional. Aderbal conta que atende vários jovens cujo problema principal é a negação do vício. Ele também aponta que a maioria dos adolescentes atendidos por ele passa o período da noite e madrugada adentro jogando, principalmente online. No exterior, foram relatados casos de trombose por falta de movimento e esgotamento por conta de jejum forçado durante horas seguidas.

Adriano Segal, médico psiquiatra do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Oswaldo Cruz, aponta outros problemas que podem decorrer do vício, como sedentarismo, problemas posturais e obesidade. “As consequências mais graves, no entanto, até pela facilidade de acesso aos jogos atualmente, se refletem na ausência de vida afetiva, social e até profissional”, observa.

Pais
É preciso estar alerta. “Os pais geralmente não têm familiaridade com esse universo dos games, e o filho passa a viver em um mundo à parte. Muitas vezes, há a ilusão de que aquilo é positivo, pois, enquanto o filho está trancado no quarto, também está longe das drogas ou de confusões fora de casa”, ressalta o psiquiatra. Havendo suspeita, é aconselhável que os pais conversem com os filhos, no sentido de promover mudanças na vida dos jovens, de maneira leve e pacífica.

Quando a conversa não ajuda, a apoio profissional é sempre recomendado. “O tratamento deve contemplar o mapeamento da gravidade do quadro e a tentativa de reduzir o vício. Como ainda há poucos estudos a respeito do problema, não há evidência científica suficiente de que a medicação deva ser aplicada, limitando-se ao tratamento das comorbidades”, conclui.

Os sinais do comportamento dependente de jogos eletrônicos costumam ser os seguintes: 

* Jogar por muitas horas seguidas, prejudicando interações sociais;
* Diminuição do menor rendimento escolar ou profissional;
* Irritação quando em abstinência;
* Diminuição do tempo de sono para jogar mais.

Por NCG.news/Foto: Getty Images