Um trabalho conduzido por cientistas da Universidade de Louisville, nos Estados Unidos, e publicado nesta terça-feira (25) na revista Nature Communications sugere que o uso de cigarros eletrônicos pode desencadear arritmias (batimentos irregulares do coração) e disfunção elétrica cardíaca.

Eles utilizaram modelos animais e constataram que a exposição aos produtos químicos dos dispositivos causou batimentos cardíacos prematuros e batimentos cardíacos pulados.

“Nossas descobertas demonstram que a exposição de curto prazo aos cigarros eletrônicos pode desestabilizar o ritmo cardíaco por meio de produtos químicos específicos nos líquidos eletrônicos”, alerta em um comunicado o coordenador do estudo, professor Alex Carll, do departamento de fisiologia da universidade.

O pesquisador destaca que “o uso de cigarros eletrônicos com certos sabores ou veículos solventes pode interromper a condução elétrica do coração e provocar arritmias”.

“Esses efeitos podem aumentar o risco de fibrilação atrial ou ventricular e de parada cardíaca súbita”, complementa.

Foram usados nos testes os principais ingredientes dos líquidos que compõem os cigarros eletrônicos, como propilenoglicol sem nicotina e glicerina vegetal, além de líquidos com sabor com nicotina.

No artigo, os pesquisadores descrevem que a frequência cardíaca dos animais diminuiu durante as exposições ao sopro e acelerou, à medida que a variabilidade da frequência cardíaca diminuiu, o que indica respostas ao estresse de luta ou fuga.

Outro achado foi que a inalação de cigarro eletrônico sabor mentol ou com propilenoglicol causou arritmias ventriculares e outras irregularidades elétricas no coração.

O professor Aruni Bhatnagar, da divisão de medicina ambiental da Universidade de Louisville, afirma que essa é mais uma comprovação do perigo dos cigarros eletrônicos para a saúde.

“Isso é altamente preocupante, dado o rápido crescimento do uso de cigarros eletrônicos, principalmente entre os jovens.”

Em julho deste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) manteve a proibição da importação e venda de dispositivos eletrônicos para fumar.

Mesmo assim, esses produtos continuam sendo comercializados sem nenhum impedimento, especialmente na internet.

Uma pesquisa conduzida pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e pela organização internacional Global Strategies mostra que a prevalência de adultos tabagistas caiu de 14,7%, no período pré-pandemia, para 12,2%, nos primeiros três meses de 2022.

Por outro lado, o estudo traz números que acendem um alerta. Entre jovens de 18 a 24 anos, quase 20% declararam ter experimentado cigarro eletrônico entre janeiro e março deste ano. Na população geral, foram 7,3%.

Outro estudo, publicado em junho na revista científica Addiction, mostra que, mundialmente, um em cada 12 adolescentes de 13 a 15 anos havia usado cigarro eletrônico no período de 30 dias anterior ao questionário.

Além do risco cardíaco, os cigarros eletrônicos podem causar sérios danos pulmonares.

A Evali (sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico) é uma das complicações e está associada a um forte processo inflamatório nos pulmões, capaz de levar à morte.

Em um dos casos ocorridos no Brasil e reportado à Anvisa, os sintomas da Evali foram descritos como “sensação de desmaio, dor muito forte no meio peito, impressão de infarto”.

Um documento elaborado pelo Ministério da Saúde, em conjunto com o Inca, identificou 21 elementos presentes na fumaça dos vapers que podem trazer danos à saúde. Entre eles estão chumbo, enxofre, titânio, cobre e lítio.

Foto: Divulgação/Ministério da Saúde

do R7