Descobrir quem são, onde estão e como resolver o problema de acumuladores de animais é uma das propostas contempladas no edital do Programa de Pesquisa aplicada à Saúde Única, do Governo do Paraná. Iniciativa inédita no País, desenvolvida pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e pela Superintendência Geral de Ciência e Tecnologia e Ensino Superior, e viabilizado pela Fundação Araucária, o edital destina cerca de R$ 1 milhão para sete projetos de pesquisa dentro do conceito de saúde animal, humana e ambiental.

O trabalho sobre acumuladores de animais foi proposto pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexander Welker Biondo e já começou a ser desenvolvido em Curitiba. Com o recurso de R$ 92,4 mil, oriundo do edital do Governo do Estado, será possível ampliar a linha de pesquisa para os 29 municípios da Região Metropolitana de Curitiba, além de Ponta Grossa (Campos Gerais) e Foz do Iguaçu (Oeste), e finalizar uma cartilha educativa sobre o tema.

O objetivo é prover saúde para que os animais possam ser adaptados e socializados para lares definitivos. “O edital de Saúde Única do Estado é um marco porque envolve a saúde animal, humana e ambiental em um único estudo, permitindo uma resposta prática em que, ao final do período de desenvolvimento, teremos respostas que poderão servir de subsídios para políticas públicas”, afirmou Biondo.

A pesquisa já identificou que, geralmente, a pessoa com o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) de objetos e ou animais é idosa que mora sozinha, com comorbidades, e sem recursos para manter a si próprio e aos animais.

A situação de acumulação está condicionada à grande quantidade de lixo, ratos, baratas, acúmulo de sujeira, além de infecções bacterianas, virais e parasitárias, como carrapatos, pulgas e piolhos.

“Como esses animais estão, muitas vezes, em condições de maus-tratos, passando fome, em locais apertados e sem higiene, as consequências atingem também o meio ambiente, os vizinhos, a área verde no entorno desse espaço”, completou o professor.

A primeira fase do projeto visa obter um mapeamento de todos os acumuladores de animais através de questionários enviados às prefeituras municipais. O segundo passo é adentrar nas residências, levantar a quantidade de objetos de lixo acumulados, o histórico dos moradores e o número de animais que estão sob sua guarda, além da questão sanitária nesses locais.

“Geralmente, segundo nosso estudo, cães e gatos são mais expostos a essas condições. Tendo esse mapeamento em mãos, iremos trabalhar junto com os municípios para reverter o quadro, retirar esses animais da condição de sujeira para uma possível adoção, retirar o lixo do local atendendo a saúde ambiental, e também ofertar tratamento psiquiátrico à população”, disse Biondo.

ACUMULADOR  A definição de um acumulador de animais não está somente relacionada à quantidade de animais em uma propriedade, mas também às condições físicas e mentais da pessoa. O Transtorno Obsessivo Compulsivo tem um alto índice de reincidência quando o problema não é tratado em todas as esferas.

“Um acumulador pode ter apenas um cão, mas se ele estiver em situação de maus-tratos e essa pessoa não estiver dando condições apropriadas, pode significar que ela perdeu a empatia pela vida, a autoestima, a auto-higiene, se mantém isolada, reclusa, não percebendo que condiciona os animais a uma situação deplorável e em contato com doenças, canibalismo, fezes”, completou o pesquisador.

CHAMADA PÚBLICA  As linhas temáticas da Chamada Pública do Programa de Pesquisa aplicada à Saúde Única foram elaboradas pela Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo e envolvem diagnóstico de ações voltadas à gestão populacional de cães e gatos no Paraná, análise de risco de doenças para vida selvagem, manejo populacional de cães e gatos em ilhas, castrações química e pediátrica de animais, maus-tratos de animais e violência doméstica, e medicina de abrigos e acumuladores.

O secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, Márcio Nunes, lembra que boa parte das doenças e zoonoses que acontecem no mundo estão relacionadas ao estreito relacionamento entre o homem e o animal, não só domésticos, mas também silvestres e de criação.

“Nosso objetivo é apoiar projetos de pesquisas que contribuam para a resolução de problemas prioritários da população no âmbito da saúde única para o fortalecimento da gestão das políticas públicas ambientais, visando o desenvolvimento científico na área do meio ambiente do Estado. Por isso, é fundamental nosso apoio para que as soluções dos problemas venham das universidades”, afirmou.

Aldo Nelson Bona, superintendente de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, destacou a importância da realização conjunta de ações entre diferentes órgãos da gestão pública, na busca de solução para os problemas. “Os ativos tecnológicos do Estado presentes nas universidades estaduais estão a serviço da população. Trata-se de um edital construído em conjunto, com a perspectiva de conquistarmos importantes resultados, tendo como foco o tema da saúde única”, ressaltou.

A Chamada Pública vem ao encontro da implantação do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) da Saúde. “O Sistema de Ciência, Tecnologia e Inovação do Paraná, com os nossos ativos, está a serviço da sociedade. E esta parceria é mais uma ação que coloca estes pesquisadores como bem comum da população, na busca por soluções para as demandas e necessidades do Estado, e em específico, aos desafios da saúde”, disse Bona.

AEN.