O feriado desta terça-feira (21) marca a morte de Joaquim José da Silva Xavier que, além de símbolo da Inconfidência Mineira, foi um homem tagarela, namorador, teimoso, corajoso, apaixonado por livros e defensor do conhecimento.

“Tem gente que quer que Tiradentes seja um ‘santo’, mas ele foi um homem, com paixões, defeitos e qualidades”, diz o professor do departamento de história da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Luiz Villalta, que pesquisa o tema há quase quatro décadas.

Após ficar três anos preso no Rio de Janeiro, Tiradentes foi enforcado em 1792. Esquartejado, teve as partes do corpo expostas em diferentes locais públicos de Vila Rica, atual Ouro Preto.

“No começo, Tiradentes se envolveu na trama pelo mesmo motivo da maioria de seus companheiros: insatisfação pessoal com a Coroa. Com o passar do tempo, já dentro do movimento, Joaquim adquiriu consciência política e compreendeu que a luta em que estava envolvia causas nobres, como a instalação da República e o fim da cruel dominação portuguesa”, conta o biógrafo Lucas Figueiredo.

Segundo Villalta, entre os legados deixados pela Inconfidência Mineira estão “as falhas permanentes de nosso poder judiciário, desde aquela época notabilizado por produzir injustiças”. Apesar de ter sido um movimento que pregava a liberdade, o professor destaca que os inconfidentes não tocaram na questão da escravidão. “Não tinham a menor sensibilidade social”, explica.

Tanto para Villalta quanto para Figueiredo, o que há de interessante em Tiradentes ultrapassa a traição à Coroa. Entre as profissões exercidas por ele estão a de dentista (“tira-dentes”), minerador, comerciante e, claro, alferes. “Um bom militar, diga-se de passagem”, afirma Villalta.

O apreço pela leitura e pelo conhecimento técnico também tem destaque na personalidade de Tiradentes. Lendo obras estrangeiras e nacionais, montava suas próprias estratégias de intervenção. Ele circulava bem por diferentes grupos sociais e tinha uma alma inquieta.

Na vida afetiva, teve um relacionamento com Antônia do Espírito Santo, 25 anos mais nova do que ele. Os dois moraram juntos, mas não chegaram a se casar. “Há registros de que, com ela, teve uma filha. Mas não é improvável que tenha deixado outros descendentes. Ele viajava demais. Era obcecado pela conspiração. Ao que tudo indica, a amante se cansou dele e o traiu”, relata Luiz Villalta.

“Ele era alguém que queria muito vencer na vida, que acreditava que o esforço seria recompensado. Mas, ao mesmo tempo, uma pessoa muito teimosa e inocente. Às vezes, confuso; sempre generoso e com uma coragem infinita”, descreve Figueiredo.

“Era fanfarrão? Falava demais? Sim! Mas sua participação como tal era essencial para o sucesso do movimento. Ele era o agente que poderia incendiar o povo”, completa Villalta.

Informações e imagens: G1 Minas Gerais