Cinco crianças foram atendidas em procedimentos cirúrgicos de alta complexidade no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop) no último mês, antes do feriado de Carnaval. As cirurgias aconteceram para a correção de anomalias no crânio, chamadas de cranioestenose, condição rara que causa pressão no cérebro e pode ocasionar déficit motor, crises convulsivas e sequelas a longo prazo. Até então, procedimentos dessa natureza em crianças do Oeste eram realizados apenas em Curitiba.

A cirurgia contou com uma técnica inovadora, com preparação em um molde 3D, e foi realizada pela primeira vez no Oeste do Paraná. Os procedimentos em todas as crianças foram um sucesso.

As crianças foram acompanhadas pelo Centro de Atenção e Pesquisa em Anomalias Crânio Faciais (Ceapac), da Unioeste. A cirurgia foi realizada em parceria com especialistas de outras instituições: a neurocirurgiã pediátrica Giselle Coelho e o cirurgião plástico Maurício Yoshida.

Uma cirurgia nesses moldes é estipulada para ser finalizada entre duas a quatro horas. Para que o resultado seja fiel ao esperado, o planejamento foi bastante realista com esse molde. “Utilizamos uma técnica bem diferente em razão da alta complexidade. Houve uma simulação em um molde 3D, que possibilita um planejamento da cirurgia ainda melhor, ganhando tempo de cirurgia, e, consequentemente, menos tempo dessa criança em transfusão de sangue e em recuperação em uma Unidade de Terapia Intensiva”, explicou Lázaro Lima, neurocirurgião do Huop.

Essa é uma técnica idealizada no Brasil e o Paraná é o terceiro estado do País a realizar uma cirurgia com a simulação. Além disso, todo o planejamento colabora durante o procedimento real e até mesmo o pós-operatório.

“Nós tivemos uma redução do tempo operatório porque já vamos com as medidas milimetricamente definidas para a cirurgia, redução do tempo de anestesia, redução da perda sanguínea, com consequente redução da internação, com melhor recuperação, não só funcional, mas também estética”, completou Giselle.

Para o procedimento, a equipe utilizou um modelo cirúrgico que beneficia o trabalho dos profissionais no planejamento da cirurgia. “Esse planejamento foi excelente para nós, cirurgiões mais experientes, e para os residentes que nos auxiliaram, pois eles puderam treinar a técnica antes da cirurgia real. Também foi interessante porque previmos algumas complicações, mudamos o acesso cirúrgico de acordo com a anatomia do paciente, isso muda o radicalmente o resultado da cirurgia”, disse Giselle.

O cirurgião Yoshida explicou a importância da equipe multidisciplinar no momento do procedimento. “Temos um olhar diferente do neurocirurgião, então a gente acaba juntando forças. Essas crianças especificamente tinham uma deformidade na forma do crânio, então o objetivo da cirurgia plástica foi modelar o osso de forma a ter um ganho maior na parte estética craniofacial pós-operatório”, explicou.

Thomas Lucca Leite Chaves foi uma das crianças beneficiadas. A mãe, Isabelle Carolina Leite Chaves, disse que ficou apreensiva, mas sabia que mudaria a vida de Thomas. “Fiquei aliviada e nervosa ao saber que chegou o momento do Thomas fazer a cirurgia, mas é para o bem dele”, disse.

CEAPAC –  Segundo a coordenadora do Ceapac, Mariângela Baltazar, a cirurgia mostra a capacidade do centro para aplicar novas técnicas nos pacientes. “É uma condição raríssima, e essa é a importância do Ceapac, pois embora sejam raras, há uma frequência,  por isso, a necessidade de fortalecer nossa equipe para que elas possam fazer as consultas, exames e todo o pré-operatório na nossa região. Pretendemos enriquecer nosso quadro de experiência dos nossos cirurgiões a fim de atender e melhorar a qualidade de vida dos nossos pacientes”, enfatizou.

Para a instituição, é um sonho realizado, segundo ela. Receber essa tecnologia, junto com profissionais de outras instituições, foi um privilégio para o ensino e para os pacientes. “É muito importante ter essa troca de experiência, esse aperfeiçoamento dos nossos cirurgiões em técnicas avançadas, e principalmente na condição acadêmica, na condição de ensino”, finalizou Mariângela.

O Ceapac nasceu no início dos anos 2000 e é parte integrante do Hospital Universitário, cujo atendimento ocorre no prédio da instituição. Hoje o serviço se dá na área ambulatorial das especialidades de Odontologia (Odontopediatria, Ortodontia, Clínica Geral, Cirurgia Bucomaxilo Facial, endodontia), Fonoaudiologia, Medicina (Pediatria, Cirurgia Plástica), Nutrição, Psicologia, Fisioterapia, Serviço Social e Enfermagem.

AEN  Foto: José Fernando Ogura/AEN