Com videoaulas e atividades quinzenais, alunos da educação municipal de Curitiba enfrentam desafio de aprender conteúdos escolares e também entender a situação do mundo com a Covid-19.
Lugares que antes eram de entretenimento, brincadeiras ou para descanso, se tornaram salas de aula há mais de um mês, em Curitiba, devido ao isolamento social causado pelo novo coronavírus. Durante este período, professores, pais e alunos enfrentam o desafio de aprender e ensinar.
Cerca de 145 mil estudantes de escolas, Centros Municipais de Atendimento Educacional Especializado e Centros de Educação Infantil estão em casa desde o dia 23 de março, quando as aulas presenciais foram interrompidas.
O recesso de julho foi antecipado, de 23 de março até 12 de abril, e no dia 13 por meio de videoaulas e atividades quinzenais, o município tenta fazer com que o conteúdo seja repassado, e as crianças tentam entender o motivo de tantas mudanças na rotina por causa da Covid-19.
Conforme a professora Cinthya Carvalho, que dá aula para os alunos do 2º e 4º ano, o momento é de toda a sociedade assumir a responsabilidade para logo superar a pandemia.
“Não podemos pensar que é uma perda, que vai ficar uma educação comprometida. As crianças precisam sempre de atenção e, agora, ainda mais, afinal, lhes foi tirado de repente a infância, a escola, a brincadeira, a liberdade”, disse ela.
‘Aprender brincando’

O estudante Alexandre de Souza Bier, de 6 anos, se envolveu tanto na nova forma de assistir às aulas que começou a gravar vídeos copiando o que os professores ensinaram. Assista acima.
“Eu acho legal, mas sinto falta da escola, dos meu colegas. Gosto de matemática, história e geografia. Gosto de aprender brincando”, contou o menino.
De acordo com a mãe, Patrícia Bier, ele está no 2º ano da Escola Municipal Campo Mourão e, no início, não estava tão animado com o novo modelo de aprender.
“Agora eu até consigo deixar ele assistindo a algumas aulas sozinho, porque tenho um bebê de 1 ano que exige bastante atenção também. Eu olho o caderno dele depois e vejo que ele realmente fez o que tinha que fazer. Ele gosta de escrever, participar, então é mais fácil. Gosto de estar junto quando tem que fazer recortes, dobraduras”, explicou a mãe.

Outra estudante que se diverte assistindo às aulas na internet é a Gabriella de 5 anos
Outra estudante que se diverte assistindo às aulas na televisão é a Gabriella Sapala, de 5 anos, que estuda na Escola Municipal Papa João Paulo XXII. Assista acima.
“Está sendo legal, minha mãe está me ajudando muito. Sinto falta das professoras, dos ajudantes do recreio, das amigas. Estou aprendendo bastante e também brinco, relatou a menina.
Pâmela Kosowski Sapala, mãe de Gabriella, conta que como está trabalhando em casa, fica mais fácil ajudar a filha.
“Ela está aprendendo bem, está quase alfabetizada. Agora conseguimos nos adaptar. Assim que eles postam as aulas, eu assisto sozinha primeiro. Depois, assisto novamente com ela. No começo eu assistia só com a Gabi, mas acontecia de alguma aula precisar de materiais, daí acabava perdendo tempo e ela se distraía”, disse a mãe.
A casa se transforma em escola
As videoaulas estão sendo transmitidas tanto no Youtube no Canal TV Escola Curitiba, como pela televisão pelos canais 9.2 e 4.2. Ao todo, são 13 horas de programação diária, mas cada aluno só assiste às aulas direcionadas para o ano escolar em que está.
A Secretaria Municipal da Educação de Curitiba produziu e gravou os conteúdos de pré, primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental e Educação de Jovens Adultos fase 1. Para estudantes do 6º ao 9º ano do Fundamental, o conteúdo é produzido pelo Governo Estadual.
As videoaulas incluem matemática, língua portuguesa, robótica, geografia, educação física, arte, ciências, história, ensino religioso, literatura, direitos humanos e família. Aos sábados, o conteúdo é apresentado com adaptações metodológicas para estudantes em inclusão.
Até quinta-feira (14), eram mais de 4 milhões de visualizações das aulas no canal do YouTube, conforme a secretaria.
A cada 15 dias, as escolas entregam atividades complementares aos estudantes. Os alunos têm que acompanhar as aulas e fazer anotações, e os professores também acompanham o material das videoaulas.
A secretaria informou que algumas escolas optaram também por utilizar o WhatsApp para que, com ajuda dos professores, os estudantes e pais tirem as possíveis dúvidas.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/4/7/MyCl5OQ8e5OtWma8VaGg/prof-cinthya.jpg)
Professora Cinthya Carvalho, da Escola Municipal Campo Mourão — Foto: Arquivo pessoal/Matheus Carvalho
A secretária municipal da Educação, Maria Sílvia Bacila, explica que todos os conteúdos apresentados via internet ou TV serão retomados presencialmente quando as aulas voltarem.
“As aulas ministradas pelos professores foram estruturadas para atender aos diferentes níveis. Temos o recurso das videoaulas, que se apresenta como meio para que o currículo seja veiculado até os locais mais vulneráveis. As crianças não retornarão às unidades para fazer provas desses conteúdos. Retornarão para rememorar o que viram, o que aprenderam”, explicou Maria Sílvia.
‘Um olhar distante’
Em meio a tantas mudanças e sem data certa para retomada das atividades presenciais, a professora Cinthya Carvalho relata que apesar da qualidade dos materiais, do acesso bom e fácil, a dificuldade é a falta do contato e da rotina.
“Não tem um exemplo de educação ideal em meio à pandemia porque a gente nunca tinha vivido isso. No trabalho diário, mesmo que tenha 25 crianças totalmente diferentes dentro da sala, conseguíamos aplicar uma rotina para ver como cada uma estava respondendo. Mesmo com as atividades quinzenais, ainda temos um olhar distante porque muitas estão sendo auxiliadas pelos pais, então a gente não sabe o quanto elas realmente aprenderam”, contou.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/L/4/ayxGB1SViJACXlR2giCw/d8041118-959b-4fa6-8b35-cacd5e2c47ae.jpg)
Com videoaulas e atividades quinzenais, crianças da educação municipal enfrentam o desafio de aprender conteúdos escolares — Foto: Arquivo pessoal/Patrícia Bier
O aprendizado
De acordo com a pedagoga Evelise Maria Labatut Portilho, pós-doutora em Educação e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), essa distância forçada pelo isolamento social apesar de ser extremamente necessária, inevitavelmente dificulta o processo pleno de aprendizagem.
“Para haver aprendizagem a gente precisa do vínculo, interação, das crianças perguntando. São outros elementos que ajudam as crianças a aprender. A gente tem que considerar que a família não é professora, o pai e a mãe não têm a obrigação de fazer esse papel também. Porém, temos que ter paciência, não sermos tão rigorosos. As crianças estão sendo assistidas e é isso que importa”, disse.
Segundo a pedagoga, neste momento, as pessoas não devem pensar em perdas de conteúdo, mas, sim, pensar nos ganhos que se possa ter na formação das crianças daqui para frente.
“Eu não me preocuparia com o conteúdo. Peço que conversem sobre esse momento histórico com as crianças, mostre o que é o ser humano, a questão da solidariedade, do respeito, o que é ficar em isolamento, o que é o vírus, a higiene. Tudo é conteúdo. Não sistematizado como a escola faria, mas é uma riqueza de informações para se tratar em casa”, concluiu Evelise.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/P/t/8m1lKTR82qrXfx9H5FJA/d3dcdaa9-9b83-4560-b9b2-c29c2d05960d.jpg)
Profissionais da educação, alunos e mães de Curitiba relatam como é o aprendizado com novos métodos em meio à pandemia — Foto: Arquivo pessoal/Pâmela Kosowski Sapala
Posts relacionados
Rede Clima TV
