Nesta quinta-feira (10) é celebrado o ‘Dia do Gordo’, data que tem como objetivo principal conscientizar a sociedade sobre a importância do respeito e da empatia com pessoas obesas.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada em 2018, o Brasil possui cerca de 55,7% da população adulta com excesso de peso e 19,8% dos brasileiros são considerados obesos. E, infelizmente, muitas pessoas ainda sofrem preconceito e são julgadas pela forma do corpo e suas características físicas.

Gordofobia e obesidade

A psicóloga Caroline Liber Kincheski explica que este preconceito é chamado de ‘gordofobia’. “A gordofobia se caracteriza por um tipo de preconceito, quando se coloca uma pessoa numa situação de menor valia ou quando se julga o seu caráter, a sua produtividade, o seu desempenho e o seu valor pessoal, simplesmente baseado nas características físicas dessa pessoa”, explica.

Jessica Hegler – Nutricionista

Porém, ao contrário do que muitas pessoas acreditam, estar acima do peso ideal não significa necessariamente estar doente ou menos saudável. De acordo com a nutricionista Jessica Hegler (CRN8 8418), isso acontece porque magreza não é sinônimo de saúde. “Existem muitas pessoas magras que não são saudáveis, têm falta de vitaminas, pressão alta, colesterol alto e até mesmo diabetes”, explica.

Jessica também explica que mesmo que a obesidade seja perigosa para o corpo, é possível que uma pessoa considerada acima do peso seja saudável. “A obesidade é sim uma das doenças mais perigosas da atualidade. Mas alguns indivíduos obesos podem, sim, apresentar todos os exames com taxas normais e saudáveis”, afirma.

Preconceito cultural

Além de ser inadequado, este tipo de preconceito ainda pode causar diversos transtornos psíquicos nas vítimas, como transtornos dismórficos corporais e os transtornos alimentares, segundo Caroline. Mas, mesmo quando uma pessoa não tem um diagnóstico clínico, também pode sofrer por não se encaixar nos padrões impostos pela própria sociedade. “A pessoa acaba não desenvolvendo toda a sua potência de capacidade devido a um estigma social que é a gordofobia. Tudo que a pessoa se sinta invalidada, diminuída daquilo que ela é por conta da sua forma física, afeta o psiquismo”, afirma a psicóloga.

Caroline Liber Kincheski – Psicóloga

Caroline acredita que as redes sociais colaboram para que a busca pelo ‘corpo ideal’ não acabe. “O que sustenta economicamente a rede social é essa indústria da beleza. Mas precisamos pensar: a quem favorece que eu me sinta inadequado? E principalmente as mulheres ainda sofrem essa pressão maior. Então se todas as mulheres do mundo acordassem amanhã satisfeitas com seus corpos, aparência, rugas, pelos, se todas as mulheres fizessem as pazes com aquilo que é natural, a indústria iria a falência”, argumenta.

A gordofobia não vai acabar de um dia para o outro, por isso, o segredo para não se deixar abater por julgamentos alheios é o fortalecimento emocional e psíquico, como explica a psicóloga: “Acho que nós não vamos conseguir mudar esse padrão cultural tão cedo, ele está enraizado na cultura. O que nós podemos fazer é nos blindar e fortalecer o nosso psiquismo, para que não sejamos uma ‘presa’ fácil e vítima de uma cultura que nos diz que estamos sempre inadequados, fora do peso, fora da medida, que sempre poderíamos estar mais sarados e mais definidos”, finaliza.

Aceitação

Isadora Mayer é um exemplo de mulher que não deixa se abater com o preconceito alheio. Ela é comunicadora e trabalha como diretora de uma emissora de televisão em Palmeira, e conta que ela não tem problemas com o corpo e se aceita do jeito que é. “Eu não tenho problema em ser gorda. Mas quando eu ponho uma mini blusa as pessoas me olham como se eu fosse uma demente, porque apenas magros podem mostrar a barriga”, conta.

Para ela, a gordofobia é uma questão cultural que está presente até nas pequenas palavras e atitudes do dia a dia. “Na escola às vezes rolava um comentário: ‘Ah gorda, olha a gorda’. Mas existem muitas pequenas palavras, que indiretamente são preconceituosas e as pessoas não se tocam. Por exemplo: Que rosto lindo, nunca pensou em emagrecer?”, relembra.

Isadora Mayer – Diretora da Rede Clima TV

Isadora conta que é comparada com as suas irmãs que são mais magras do que ela. “Minhas duas irmãs são bem magras, e as pessoas costumeiramente me questionam se não me sinto feia ou chateada por ser gorda e elas estarem ‘bem’”. Como explica a nutricionista, a obesidade não é sinônimo de doença e Isadora concorda: “Gordo não é doente. As pessoas têm na mente delas que nós comemos o dia todo por sermos gordos. Mas desde que eu nasci sou gorda, nunca fui magra”, conta Isadora.

Ela ainda afirma que é preciso parar de usar eufemismos para se referir às pessoas gordas, como ‘fofinho’ ou ‘cheinho’. “É gordo mesmo, não é errado. Gordinho chega até a ser feio. Assim como é negro, e não negrinho”, explica.

A comunicadora também conta que ama o seu corpo e gosta de sempre estar arrumada. “Eu me acho linda, me visto bem, sempre estou arrumada e muitas mulheres se encorajam a fazer o mesmo: usar uma roupa mais curta, ousar”. E ela ainda finaliza: “Olha, eu gostaria que todas as mulheres se aceitassem como são. Fossem felizes com seus corpos, cabelos, esteriótipos. Não existe padrão. Seu corpo não te define. Seja você e vire tendência!”.

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