A BRF , dona das marcas Sadia e Perdigão, vai entrar na área de carne cultivada, ou seja, produzida em laboratório a partir de células dos animais. A companhia fechou parceria com a foodtech israelense Aleph Farms e prevê que a novidade chegue às prateleiras brasileiras em 2024.

“Estamos na fase inicial, do desenvolvimento da tecnologia, para que possamos produzir em escala e com competitividade para chegarmos a um patamar de preço de carne bovina acessível a todas as classes “, diz Lorival Luz, CEO da BRF.

Com o crescimento da população global, continua ele, a companhia vai apostar fortemente em produtos que tenham impacto reduzido para o meio ambiente.

A conduta vem em meio a um cenário em que empresas, fundos de investimento e órgãos de governo — principalmente internacionais — cobram das corporações a implementação de práticas sustentáveis alinhadas a políticas ambientais avançadas.

Sem essas práticas, as companhias arriscam perder capital estrangeiro, restringir mercados, principalmente de exportação, além de sofrer danos de imagem.

A imagem está pressionada pelo outro lado dessa cobrança, que vem do consumidor, pedindo que as corporações cumpram, na prática, os propósitos que afirmam moverem seus negócios.

Diversas empresas se destacam globalmente ao inovar em proteínas , como a americana Memphis Meat, a espanhola Cubiq Foods e a holandesa Mosa Meat, todas de carne cultivada. Sem esquecer das de substitutos à base de plantas para carne, como a Impossible Foods (EUA), que já tem parceria com o Burger King. Também a Nestlé avança nessa direção.

O ingresso das carnes cultivadas no portfólio de produtos da BRF integra o plano estratégico anunciado pela companhia no fim de 2020, que prevê investimentos de R$ 55 bilhões em dez anos, e crescimento exponencial em linhas de produtos como substitutos de carne e outros para o mercado pet .

O objetivo é fazer a receita da BRF, que fechou 2020 em R$ R$ 39,47 bilhões, saltar para R$ 100 bilhões até 2030.

Preço salgado: mil dólares o quilo

A Aleph Farms conclui até o fim deste ano o que batizou como biofazenda (BioFarm), a fábrica de carne cultivada que vai permitir dar escala à produção, explica Didier Toubia, um dos fundadores e CEO da foodtech.

“Na pecuária tradicional, o abate leva de três a quatro anos para ocorrer. A carne cultivada tem ciclo de quatro semanas. A BioFarm terá capacidade produtiva equivalente a 40 mil cabeças de gado por ano, a partir de 2024, mas consumindo apenas 2% da área e 5% da água usados na criação de gado tradicional”, explica ele.

O nó, agora, está em avançar na escala de produção para baratear o preço. Hoje, o quilo do bife de laboratório custa US$ 1 mil .

“Em três ou quatro anos, esperamos ter a carne cultivada custando US$ 5/kg (perto de R$ 29/kg ), o que mesmo em comparação ao preço atual é muito competitivo”, destaca Sérgio Pinto, diretor de inovação da BRF. “Não é um alimento geneticamente modificado. É uma célula cultivada, com tudo o que precisa para crescer feito de forma orgânica”.

No prato, a novidade poderá ser do corte escolhido pela BRF, devendo começar pelos mais nobres. E poderá ser vendida em produtos processados, como lasanhas; modelados, como hambúrgueres, ou num corte inteiro.

Nesta quinta, a BRF se reúne com representantes da  Anvisa  e do Ministério do Meio Ambiente para discutir as certificações, que devem estar concluídas em meados de 2022, diz Pinto. Ele explica que, pelo novo formato, ainda não é possível mensurar qual será o investimento.

do IG