No grupo de risco da Covid-19, pessoas com mais de 65 anos enfrentam dificuldades para seguir a rotina com isolamento social e contam com ajuda de familiares, vizinhos e amigos.

 

Mais de 4 milhões de idosos vivem sozinhos no Brasil, segundo dados do IBGE. Além de estarem no grupo de risco do novo coronavírus, essas pessoas enfrentam dificuldades para realizar tarefas cotidianas com as medidas que estão sendo adotadas para conter a propagação, como isolamento social, fechamento de comércio e serviços não essenciais e restrição de circulação.

Para superar essas dificuldades, alguns recorrem aos familiares, amigos e vizinhos.

Brasil tem 4,3 milhões de idosos vivendo sozinhos: número por estado — Foto: Aparecido Gonçalves/G1

Moradora de Barra Mansa, no Sul do Rio de Janeiro, Maria José Ramos, de 73 anos, é mãe de três filhos e tem um neto. Ela mora sozinha há 10 anos desde que parte dos familiares foi morar na capital fluminense e um filho foi morar nos Estados Unidos.

Quando a crise do coronavírus se agravou, os vizinhos do condomínio fizeram uma “rede de ajuda” para casos de necessidade.

“Os meus vizinhos todos já se ofereceram para fazer compra para mim ou para me ajudarem em casos de emergência”, conta Marzé, como é conhecida pelos amigos. “Eu tenho o Hugo aqui no prédio, que é o amigo do meu neto e é como se fosse um neto também. No último domingo, ele trouxe comida aqui que a esposa dele fez. A gente fez uma cadeia de colaboração aqui no condomínio.”

Em entrevista ao G1, ela diz que não parou sua atividade física semanal no período de isolamento social. Além de praticar pilates, ela aproveitou para intensificar a leitura para não ficar tão irritada com as restrições de convívio.

“Eu estou irritada, mas sigo quietinha em casa. Eu estou fazendo todos os exercícios de pilates para passar o tempo. A professora está mandando para a gente os vídeos do que temos que fazer pelo WhatsApp. Eu estou fazendo em casa durante uma hora”, afirma. “Acordo, tomo café, faço pilates, faço minhas orações e tenho lido bastante.”

Servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho,  Ana Margarida Pereira Pinto, de 67 anos, continuou trabalhando em casa após epidemia do novo coronavírus — Foto: Arquivo pessoalServidora pública do Tribunal Regional do Trabalho,  Ana Margarida Pereira Pinto, de 67 anos, continuou trabalhando em casa após epidemia do novo coronavírus — Foto: Arquivo pessoal

Servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho, Ana Margarida Pereira Pinto, de 67 anos, continuou trabalhando em casa após epidemia do novo coronavírus — Foto: Arquivo pessoal

Servidora pública do Tribunal Regional do Trabalho, Ana Margarida Pereira Pinto continuou trabalhando em casa após o isolamento. Com três filhos, ela mantém contato com os familiares sempre pela internet.

“Não tenho abusado deles, não. Tenho me virado bem sozinha”, conta Ana Margarida, que mora no Grajaú, Zona Norte do Rio. “Uma coisa que está ajudando muito é fazer chamada de vídeo, pelo WhatsApp, com 3 pessoas. Dá uma sensação de proximidade muito grande”, diz.

Ela afirma que criou uma rotina para se dividir entre trabalho, atividades domésticas e lazer.

“A gente ficou sozinho. A gente não pode ter nossa faxineira, nossa ajudante. Porque elas correm risco e a locomoção está dificultada”, diz. “Estou fazendo tudo na minha casa. Estou procurando fazer isso: ter momento dedicado ao trabalho, momento dedicado para organização da casa e um momento para lazer, ver alguma coisa, bater papo com os amigos.”

Apoio da família

Geoneva Leal, de 86 anos, foi para a casa da filha Júlia, enquanto está em vigor o isolamento social por conta do coronavírus — Foto: Arquivo pessoalGeoneva Leal, de 86 anos, foi para a casa da filha Júlia, enquanto está em vigor o isolamento social por conta do coronavírus — Foto: Arquivo pessoal

Geoneva Leal, de 86 anos, foi para a casa da filha Júlia, enquanto está em vigor o isolamento social por conta do coronavírus — Foto: Arquivo pessoal

Já Geoneva Leal, de 86 anos, foi para a casa da filha Júlia, na Tijuca, Zona Norte do Rio, enquanto está em vigor o isolamento social. Ela se diz privilegiada por ter uma família que a acolhe tão bem.

“Estou sendo tratada como uma princesa”, conta Geoneva. Ela diz que está aproveitando a companhia dos netos, Stephanie e Giovanni. O contato também é constante com a outra filha, Aida, mas pelo telefone e pela internet.

“Sou uma pessoa para cima. Já tive tumor no cérebro. Operei. Agora estou ótima. Faço crochê, tricô, faço comida, gosto de colorir livros para passar o tempo.”

Sua maior preocupação é com quem não tem o mesmo apoio e está sofrendo as consequências do coronavírus.

“Na época da guerra não se passava o que está passando hoje. Nós tínhamos vale para apanhar comida, tinha lugar que dava leite, não faltava nada. Agora tem gente desempregada, sem salário”, afirma Dona Gena, como é conhecida, lembrando de sua infância durante a Segunda Guerra Mundial.

Por G1