A pandemia da Covid-19 tem causado uma série de colapsos em diversos setores econômicos e que atingem de diferentes formas os grupos profissionais. Já refleti sobre como esse setor atingiu o sistema de saúde (o primeiro a ser severamente desgastado), as pessoas que atuam no sistema de saúde (profissionais de saúde e de apoio) e as atividades comerciais. No entanto, há um outro colapso em andamento e sem perspectivas claras de melhoria: o colapso da educação.

Desde março de 2020, com a pandemia se tornando realidade, notamos uma sobrecarga nos docentes que tiveram que se adaptar rapidamente ao sistema on-line, um mundo até então não muito conhecido. Essa situação foi sabiamente ilustrada por uma série de publicações na internet que replicavam uma cena do clássico filme Titanic – nela, uma orquestra tocava enquanto o navio afundava. A orquestra são os professores tentando ensinar online em meio ao caos social e também na saúde.

No caso do ensino superior privado, vemos as instituições sendo pressionadas financeiramente pela alta carga de desistência dos alunos que têm largado a faculdade e optado por outros gastos e pela sobrevivência. Isso acontece em um país que tem falta de estímulo para formação científica e falta de perspectiva para o futuro – a pandemia atingirá em cheio a formação superior de toda uma geração.

Já no caso do ensino superior público, vemos crises gravíssimas de financiamento nas universidades federais e estaduais – instituições respeitadas internacionalmente, como a UFRJ, estimam que podem deixar de funcionar caso não haja reforço no financiamento. Isso, por óbvio, causa um duro prejuízo à pesquisa brasileira, passando pelo atendimento hospitalar, mas também por outros setores sociais que têm seu desenvolvimento pautado pela pesquisa científica.

Um cenário parecido se aplica às escolas de ensino básico: os pais, pressionados pelo eventual desemprego e queda na renda, se viram obrigados a retirar os filhos do sistema privado, incluindo as crianças em escolas públicas. Esse movimento em massa desaquece o setor da economia privada, além de sobrecarregar o sistema público em termos de demanda por recursos – aqui não se trata de qualidade do ensino, mas sim de distribuição da demanda e da pressão sobre um dos pólos.

No caso das crianças, é ainda mais notável que a pandemia trouxe danos ao aprendizado – os adultos podem se adaptar mais facilmente às atividades remotas, mas para as crianças em alguns casos isso é quase impossível. Além disso, muitas das escolas públicas funcionam como braço do estado no fornecimento dos serviços básicos e na saciação das necessidades primárias, como alimentação. Muitas crianças comiam com qualidade apenas na escola e deixaram de ter essa oportunidade.

Com as escolas fechadas ou abertas parcialmente, temos ainda outro fator complicador: a disponibilidade dos pais em atuar profissionalmente. Com o mercado de trabalho e a economia em crise, muitos pais se viram ainda mais limitados profissionalmente ao terem a rotina pautada exclusivamente pelos cuidados com as crianças. Neste caso, muitos pais e mães se viram obrigados a atuarem com rotinas duplas ou até triplas.

Todo esse cenário de desconcerto provocado pela pandemia tem causado, por um lado, um baque financeiro notável nas instituições privadas de ensino e, por outro, uma pressão extra e quase impossível de ser trabalhada nas instituições públicas de ensino. Esse desequilíbrio na demanda e no financiamento destes dois pólos acaba por pressionar a manutenção econômica das atividades privadas e ainda pressionar a atuação de professores e trabalhadores de ambos os setores (privado e público).

Mas diante deste cenário, o que pode ser feito daqui para frente? Acredito que agora o foco deve estar  em medidas efetivas, para não desperdiçar gastos com controle de temperatura por pistolas, por exemplo. Como disse o médico Drauzio Varella, essa é uma “simpatia”, semelhante àquela em que o  jogador de futebol se benze antes de entrar em campo para uma partida.

Importante destacar que a contaminação da Covid-19 não ocorre em superfícies e nem ao ar livre, mas sim em ambientes mal ventilados. Desta forma, o foco tem que estar primeiro na vacinação de professores e outros trabalhadores de todas os setores da educação (pública e privada, de nível básico, fundamental, médio, técnico e superior). Depois precisamos nos esforçar para ensinar presencialmente em ambientes arejados e com garantia de segurança sanitária para todos os participantes.

O colapso na Educação tem um aspecto que o torna ainda mais preocupante: a história recente nos mostra que estados-nações só superaram condições de subdesenvolvimento com educação em massa. Os danos que a Covid-19 trouxe ao nosso setor educacional são gravíssimos e urge a necessidade de minimizarmos essas condições que vão prejudicar o desenvolvimento do Brasil nas próximas décadas.

Everson Krum – Vice-reitor da UEPG e ex-diretor do HU-UEPG